Sempre
ouvi no meio religioso jargões do tipo “não
morrerei enquanto Deus não cumprir o que me prometeu”, “o
diabo toca no justo apenas se ele der brecha” e coisas do gênero. É comum,
no meio da religião e da moral, as pessoas terem perspectivas simplistas (que é
diferente de simplicidade!) das situações ao seu redor; notadamente caem
inconscientemente no conceito da retribuição, onde eu faço o bem, logo receberei o bem. O apóstolo Paulo divaga em sua
primeira carta aos Coríntios sobre essa lógica espiritual, da semeadura, onde
tudo que eu plantar irei colher. Tal pensamento é ponto pacificado entre a
maioria dos credos cristãos. Entretanto, tal linha de crença se rompe muitas
vezes quando uma fatalidade chega com toda a sua força abatedora. Jesus afirma,
por exemplo, que, diante da desgraça, todos nós somos iguais:
“... aqueles dezoito sobre os
quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os
outros habitantes de Jerusalém? Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos
arrependerdes, todos igualmente perecereis.”
(Lucas 13: 4 e 5)
Outro
caso fatídico foi o de Jó, onde tudo o que, supostamente, seria improvável
acontecer com um justo, veio sobre a vida do personagem. O que aprendemos com
isso? Que Deus se esqueceu até dos seus fiéis? Não, absolutamente. Aprendemos
que:
-
Não somos melhores que ninguém, nem piores;
-
Em regra, tudo o que plantarmos, colheremos, nessa ou em outra dimensão
espiritual. Entretanto, no nosso mundo existencial, material, tal lei espiritual nem sempre pode ser
aplicada, frente às fatalidades sob as quais qualquer um de nós pode ser
exposto;
-
Deus é soberano; entretanto, Ele não usa de Sua soberania para interferir
continuamente na ordem natural da existência humana. Se o homem poluir, a
natureza cobrará caro dele, ou talvez cobre de seus netos, que nem culpa
possuem pelo erro do avô. Isto não significa que Deus é inerte. Diante do nosso
cotidiano, vemos as muitas vezes que somos guardados e
quantos livramentos temos ante as ameaças e contratempos. No entanto, as fatalidades
e injustiças continuarão todos os dias rodeando, aos justos e injustos, a uns
mais, a outros menos, e assim provando nossa fé. Sim, pois sempre buscamos fé
para sermos curados, mas, quando não o somos, necessitamos de uma fé ainda mais
firme e nobre para nos conformarmos com a voz do Senhor: “a minha Graça te basta!”
Todos
os dias, crendo ou não, fiéis a Cristo ou não, somos passíveis a sofrermos
infortúnios, desde um acidente a uma queda, da bala perdida à perca inesperada, da
traição nunca imaginada à morte prematura. Isso não nos torna melhores ou
piores a ninguém e nem tampouco nos dá direito a pronunciar injúrias e
lamentações contra o Criador, por ter Ele permitido
tal desgraça, ainda que, na esmagadora maioria das vezes, o façamos, ao
invés de termos uma atitude de reflexão e resignação. A forma como passamos
pelas situações atípicas, dolorosas e inimagináveis que nos surpreendem é que
mostrará, de fato, quem somos e qual seja amadurecida a nossa fé.
Que Deus nos abençoe!
Cesário C. N. Pinto
Itapajé – CE, 14 de Julho de 2013.
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