O Arquivo 154 é um
projeto que idealizei em celebração à Semana do Município de Itapajé, com a
finalidade de publicar rápidas entrevistas com personalidades que estudam a
nossa história local. As indagações aos entrevistados envolveram história,
curiosidades e política local.
O índio, o monge e
o povo:
Entrevista com Francisco
Carlos Bezerra e Silva (Cacá Pitombeira)
Primeiramente, existiram
realmente indígenas habitando na Serra da Uruburetama?
Sim. Embora o único documento
oficial do início da passagem portuguesa pela região não faça menção direta,
sabe-se que os habitantes primitivos transitavam pela serra. Sabe-se ainda que
a primeira povoação – Povoação da Serra da Uruburetama – também possuía muitos
nativos no seu entorno e que, durante uma época, houve aldeamento de
reminiscências tribais na região. Há registros de encontros de ossadas antigas que
também confirmam que a região abrigou povos pré-europeus.
Como o senhor vê esse movimento
espontâneo da sociedade, que surgiu nos últimos anos, em busca do resgate da
história de Itapajé?
Com satisfação, pois, quando
quis conhecer, não tive facilidades. O nosso grande memorialista, Senhor
Aristóteles Carneiro, fez a sua parte quando organizou o folheto comemorativo
ao centenário da cidade (até hoje confundido com o centenário do município).
Depois disso, acredito que alguns tentaram ordenar informações, mas sem
disponibilização, o que me impulsionou a fazer um registro despretensioso,
provocador. Assim é que vejo com satisfação essa ferramenta disponibilizada
para tentar contar essa história de forma mais coletiva. A História, como
sabemos, sempre foi contada pela ótica dos vendedores. A rede aberta, seus
diversos blogs e páginas, permite a exposição de novas versões, a contestação
do que foi cristalizado, enfim...e o grande mérito nisso é dar mais unidade a
nossa cidade neste mundo em processo de pausterização onde tudo parece ficar
parecido e tudo perder o sentido.
O senhor escreveu o livro Sob as
Vistas do Monge Lendário, muito conhecido entre os estudiosos da história
local. Pretende publicar uma nova obra sobre a princesa serrana?
Não está nos pensamentos deste
momento. Eu não sou historiador, sou um curioso. O livro citado foi a ampliação
de um projeto desenhado, inicialmente, no ano 2000, para ser um guia da cidade.
Entretanto, eram tantas as histórias que decidi compor um relato. Lembro que
havia uma grande demanda por informação sobre o passado da cidade e pouca
disponibilização de informação. Assim arrisquei organizar os relatos ouvidos e
tentar compreendê-los à luz da conjuntura de cada tempo. Resultou em um relato
despretensioso, mas que sei que tem auxiliado algumas pessoas a compreender
melhor o que é a nossa cidade. Depois disso permaneci na constante curiosidade.
Muita coisa não dita, muita informação contraditória. Hoje, se pudesse
dedicar-me a um novo projeto, eu gostaria de fazer algo mais aprofundado com
relação ao período colonial, aos setecentos e oitocentos da região,
principalmente.
O senhor participou das
administrações de Batista Braga. Qual o maior legado que BB deixou para nossa
história?
Quando as pessoas estão ainda
atuando no seu campo, fica complicado fazer análises mais detalhadas. Seria
como julgar o legado de Lula para a sociedade brasileira sem a conclusão do seu
ciclo. Entretanto acredito que é possível vislumbrar um grande diferencial nas
administrações do Batista Braga: a presença maior da população menos favorecida
e um certo distanciamento do elitismo predominante até então. Isso é visto por
alguns como populismo, mas, independente dos julgamentos ideológicos, essa
fatia considerável da população, o chamado “povão”, manifestou-se representado
nos seus governos. Considero isso muito importante para a democracia e, mais
ainda, para a busca de um equilíbrio social nesse imenso fosso criado pelas
elites ao longo da História brasileira.
Todo gestor comete equívocos.
Onde Batista pode ter falhado administrativamente?
Assim como conseguiu reunir uma
faixa considerável de admiradores, o Batista Braga também criou o seu grupo
detrator. Fazer uma análise sobre acertos e erros, neste momento, demanda um
estudo mais aprofundado e seria leviano de minha parte resumir um fenômeno
eleitoral em uma única resposta. Deixo para os críticos de seu estilo político
tal tarefa.
Qual mensagem o senhor deixa para
os apreciadores da história de Itapajé?
Que busquem, registrem e,
principalmente, compartilhem. Há séculos saímos dos mosteiros medievais onde o
conhecimento foi sonegado a quem o busca.
Agradeço ao senhor
Cacá Pitombeira pela prontidão ao responder nossas indagações. Muito obrigado.
Itapajé-Ce, Julho
de 2013.
Cesário Pinto.
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