... Como pelas leis dessa natureza que Deus pensou e criou, o prazer é a conseqüência necessária de qualquer atividade normal, em qualquer plano em que se verifique essa atividade, e como é impossível sacrificar toda atividade (nem Deus jamais pediu tal coisa nem mesmo poderia aceitar esse aniquilamento budista), a conseqüência é que, dentro de tais concepções religiosas, a santidade vem a ser algo absurdo, não algo acima da natureza, mas algo contraditório com ela, unicamente apta para ocasionar a mais variada fauna de distúrbios psicológicos. Aliás, sendo tal “santidade” algo não superior à natureza, mas contraditório com ela, vem a ser algo contraditório com Deus, pois Deus é o modelo único de todo o natural, como igualmente de todo o sobrenatural, não podendo pois haver oposição de contrariedade entre alguma coisa e a natureza, sem que haja oposição com o mesmo Deus.
Alguém já disse que Sócrates, Aristóteles e Santo Tomás de Aquino pensaram para o século XX, pois somente agora se estão realizando todas as condições que hão de possibilitar a síntese magnífica iniciada em largos traços pela Filosofia aristotélico-tomista. Por isto mesmo chegou a hora de pôr a “vida” cristã totalmente na linha do aristotelismotomista, que não é só Filosofia, mas Filosofia e Teologia unidas num só corpo de doutrina e numa só alma de verdade e de graça. Então a “santidade” será, não só de fato, mas também de direito, quero dizer, não só na realidade, mas também no conhecimento e no sentimento dos fiéis não algo que leva o homem a fugir das realidades criadas, mas sim algo que faz o homem, nessas realidades criadas, encontrar a Deus e, unindo-se diretamente a Deus, pela Verdade e pela Graça, em Deus tudo compreender, em Deus tudo amar e, conseqüentemente, gozando de Deus, em Deus gozar de tudo, segundo as leis da natureza e da graça, que são expressões da vontade e do amor de Deus.
Fonte: do Eterno e do Efêmero, Filosofia. Fernando de Barros Leal. Universidade Federal de Pernambuco – Imprensa Universitária – Recife – 1967
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