Houve
um tempo em que a nação de Israel se dividiu em dois reinos: o reino de Judá,
formado por duas tribos e com capital em Jerusalém; e o reino de Israel, constituído
por dez tribos e com capital na cidade de Samaria. Dentre as muitas batalhas
travadas por esses dois reinos com os povos circunvizinhos, a cidade de Samaria
se viu cercada, certa vez, pelo exército da Síria. Esse relato pode ser lido no
livro bíblico de 2 Reis 6:24 até 2 Reis
7:20.
O
cerco sírio à Samaria foi tal e tão prolongado que o povo passou por fome extrema,
a ponto de mães chegarem à situação desesperada de cozer seus próprios filhos
para se alimentarem! Nesse contexto, Deus fala ao rei de Israel, por meio do
profeta Eliseu, que enviaria livramento ao povo, o que, naquele momento,
parecia impossível.
Eis,
então, que surge a figura de quatro homens leprosos, sentados na entrada da
cidade. Pela Lei de Moisés, leprosos não podiam ter contato com as demais
pessoas, a não ser que fossem curados, o que não era algo comum. A Lei
propunha, assim, algo virtuoso: que o povo não fosse contaminado pela lepra.
Porém, na prática, o que se via era preconceito e exclusão social com pessoas leprosas.
Apesar disso, Deus quis fazer daqueles desprezados indigentes seus instrumentos
de boas novas ao povo.
Os
leprosos corajosamente decidiram entre si que, entre tentar entrar na cidade esfomeada
dos “puros” ou permanecer sentados e famintos esperando a morte, uma terceira
alternativa seria possível: entregar-se aos sírios em seu acampamento. Até
porque, diziam, “se nos deixarem viver,
viveremos; se nos matarem, tão somente morreremos”. Foi assim, com uma ação
inicial, uma atitude daqueles desvalidos que a sorte do povo cercado passou a
mudar. O Senhor Deus deu a palavra de salvação pelo profeta, mas a proclamação
da manifestação dessa salvação veio por homens simples, rejeitados, fora dos
padrões sociais.
Aqueles
quatro homens chegaram no arraial dos sírios e, para sua surpresa, nenhum
soldado havia no local. Horas antes, segundo o relato bíblico, o exército sírio
foi afugentado por ruídos de carros e cavalos e de um grande exército e, ao
ouvirem, pensaram estar em grande desvantagem. Saíram às pressas, deixando tudo
para trás, diante dos sons produzidos pelo Deus Todo Poderoso, o Senhor dos
Exércitos. Os leprosos, ao verem o acampamento vazio, aproveitaram para comer e
beber o quanto puderam e, sabiamente, ainda esconderam para si os “despojos”
dos sírios, como prata, ouro e vestes. Os desprezados, doentes, pobres,
humilhados e rejeitados foram, naquele dia, HONRADOS! Mas o comportamento
daqueles homens com o povo foi diferente da atitude do povo para com eles...
“Este
é dia de boas-novas... vamos e anunciemos ao rei” – Decidiram. Diante dos
portões da cidade eles gritaram e anunciaram o ocorrido, o que finalmente
permitiu cessar a fome desesperada de toda a cidade. Foi pela atitude corajosa dos
desprezados e pela iniciativa de não se calarem que o livramento chegou mais
rápido à Samaria. Os leprosos, certamente, continuaram leprosos, NÃO foram
CURADOS. Mas o Senhor quis mostrar, com isso, que usa a todos, do profeta ao “pecador”
rejeitado, sem distinção, ainda que a Sua própria lei faça objeções às diversas
lepras, físicas e existenciais, do ser humano.
Que Deus nos abençoe!
Cesário C. N. Pinto
Itapajé – CE, 08 de Maio de 2016.
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