quarta-feira, 17 de julho de 2013

ARQUIVO 154 ENTREVISTA CACÁ PITOMBEIRA


O Arquivo 154 é um projeto que idealizei em celebração à Semana do Município de Itapajé, com a finalidade de publicar rápidas entrevistas com personalidades que estudam a nossa história local. As indagações aos entrevistados envolveram história, curiosidades e política local. 

O índio, o monge e o povo:
Entrevista com Francisco Carlos Bezerra e Silva (Cacá Pitombeira)

Primeiramente, existiram realmente indígenas habitando na Serra da Uruburetama?
Sim. Embora o único documento oficial do início da passagem portuguesa pela região não faça menção direta, sabe-se que os habitantes primitivos transitavam pela serra. Sabe-se ainda que a primeira povoação – Povoação da Serra da Uruburetama – também possuía muitos nativos no seu entorno e que, durante uma época, houve aldeamento de reminiscências tribais na região. Há registros de encontros de ossadas antigas que também confirmam que a região abrigou povos pré-europeus.

Como o senhor vê esse movimento espontâneo da sociedade, que surgiu nos últimos anos, em busca do resgate da história de Itapajé?
Com satisfação, pois, quando quis conhecer, não tive facilidades. O nosso grande memorialista, Senhor Aristóteles Carneiro, fez a sua parte quando organizou o folheto comemorativo ao centenário da cidade (até hoje confundido com o centenário do município). Depois disso, acredito que alguns tentaram ordenar informações, mas sem disponibilização, o que me impulsionou a fazer um registro despretensioso, provocador. Assim é que vejo com satisfação essa ferramenta disponibilizada para tentar contar essa história de forma mais coletiva. A História, como sabemos, sempre foi contada pela ótica dos vendedores. A rede aberta, seus diversos blogs e páginas, permite a exposição de novas versões, a contestação do que foi cristalizado, enfim...e o grande mérito nisso é dar mais unidade a nossa cidade neste mundo em processo de pausterização onde tudo parece ficar parecido e tudo perder o sentido.

O senhor escreveu o livro Sob as Vistas do Monge Lendário, muito conhecido entre os estudiosos da história local. Pretende publicar uma nova obra sobre a princesa serrana?
Não está nos pensamentos deste momento. Eu não sou historiador, sou um curioso. O livro citado foi a ampliação de um projeto desenhado, inicialmente, no ano 2000, para ser um guia da cidade. Entretanto, eram tantas as histórias que decidi compor um relato. Lembro que havia uma grande demanda por informação sobre o passado da cidade e pouca disponibilização de informação. Assim arrisquei organizar os relatos ouvidos e tentar compreendê-los à luz da conjuntura de cada tempo. Resultou em um relato despretensioso, mas que sei que tem auxiliado algumas pessoas a compreender melhor o que é a nossa cidade. Depois disso permaneci na constante curiosidade. Muita coisa não dita, muita informação contraditória. Hoje, se pudesse dedicar-me a um novo projeto, eu gostaria de fazer algo mais aprofundado com relação ao período colonial, aos setecentos e oitocentos da região, principalmente.

O senhor participou das administrações de Batista Braga. Qual o maior legado que BB deixou para nossa história?
Quando as pessoas estão ainda atuando no seu campo, fica complicado fazer análises mais detalhadas. Seria como julgar o legado de Lula para a sociedade brasileira sem a conclusão do seu ciclo. Entretanto acredito que é possível vislumbrar um grande diferencial nas administrações do Batista Braga: a presença maior da população menos favorecida e um certo distanciamento do elitismo predominante até então. Isso é visto por alguns como populismo, mas, independente dos julgamentos ideológicos, essa fatia considerável da população, o chamado “povão”, manifestou-se representado nos seus governos. Considero isso muito importante para a democracia e, mais ainda, para a busca de um equilíbrio social nesse imenso fosso criado pelas elites ao longo da História brasileira.

Todo gestor comete equívocos. Onde Batista pode ter falhado administrativamente?
Assim como conseguiu reunir uma faixa considerável de admiradores, o Batista Braga também criou o seu grupo detrator. Fazer uma análise sobre acertos e erros, neste momento, demanda um estudo mais aprofundado e seria leviano de minha parte resumir um fenômeno eleitoral em uma única resposta. Deixo para os críticos de seu estilo político tal tarefa.

Qual mensagem o senhor deixa para os apreciadores da história de Itapajé?
Que busquem, registrem e, principalmente, compartilhem. Há séculos saímos dos mosteiros medievais onde o conhecimento foi sonegado a quem o busca.

Agradeço ao senhor Cacá Pitombeira pela prontidão ao responder nossas indagações. Muito obrigado.

Itapajé-Ce, Julho de 2013.

Cesário Pinto.

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