Há valor no tédio. Não é um conceito com o qual estamos acostumados a lidar, mas há imenso valor. O tédio, na verdade, é fundamental para um número incrível de habilidades humanas, a começar pela criatividade. Sem tédio não há criatividade. E isso é um problema. Porque, cada vez com mais frequência, evitamos o tédio, o momento do nada: a sala de espera do dentista, a fila do caixa, a corrida de táxi. Ou Uber. Até, repare bem, naquele ir do quarto à sala, vacilou, mão ao bolso, pegamos o celular. Só para uma espiadinha.
Este é o tema do livro “Bored and Brilliant”, da jornalista americana Manoush Zomorodi, que foi correspondente da BBC em cantos do mundo como a Sérvia em guerra, a Palestina da Intifada, e a Macedônia negociando sua paz. De correspondente internacional, virou repórter de tecnologia e, na rádio pública americana, passou a assinar um podcast semanal. Chama-se Note to Self. Sua preocupação sempre esteve no convívio com nossas maquininhas. E é saltando de assunto em assunto que esbarrou em sua própria dificuldade de ter ideias novas.
Aí, começou a fazer perguntas.
Quando não fazemos nada, ouviu de um neurocientista após o outro, a cabeça começa a ir embora. Uma memória. Uma vontade. Lentamente um ponto liga ao outro, e entramos num estágio que muita gente chama de sonhar acordado. De fato, é quando consciente e inconsciente se comunicam, relações são feitas, de forma aleatória.
É assim que surge criatividade.
Os momentos do tédio não servem apenas para isto. Este deixar que o cérebro se leve nos permite reviver certos momentos antigos ou recentes e, assim, organizar a história de nossas vidas. Imersos nessas memórias todas, ganhamos compreensão de quem somos. O lembrar de uma discussão e refletir sobre como poderia ter sido diferente, ou então fazer planos futuros, traçar uma estratégia sobre como chegar lá.
O tédio é fundamental para nossas vidas. E tanto smartphones quanto os melhores apps são construídos para preencher os momentos de tédio. Aliás, brinca Manoush, só dois tipos de negociantes chamam seus clientes de usuários. Aqueles que vendem drogas e os outros. Que vendem tecnologia. Pois ponha algumas das mentes mais aguçadas do planeta para resolver o problema de eliminar o tédio e, bem, conseguiremos. Andamos com cada vez menos momentos de tédio.
E andamos exaustos por falta deles.
Não tem solução fácil. Mas a veterana jornalista sugere exercícios para uma semana, cada dia com sua tarefa distinta.
Dia 1. Deixe o celular no bolso. No carro, no metrô, nos momentos em que vai de um ponto ao outro, não toque no celular. Nem para música.
Dia 2. Não tire nenhuma fotografia. Quanto mais jovem, mais difícil.
Dia 3. Apague o app que você usa mais. Pode reinstalar no dia seguinte. Mas, por 24 horas, viva sem.
Dia 4. Por um período de algumas horas, não esteja disponível online. Não responda e-mails, WhatsApps, comentários. De preferência, sequer os veja.
Dia 5. Tente descobrir, no mundo, um detalhe curioso, intrigante, algo que você nunca tinha reparado.
Dias 6 e 7. O mais divertido. Ponha uma panela com água no fogo e assista ferver. Aí, abra sua carteira e faça uma maquete da casa de seus sonhos com o que estiver lá dentro. Notas, moedas, cartões, papeizinhos. Imagine esta casa e faça.
O último exercício foi desenhado pela artista contemporânea Nina Katchadourian. O objetivo é levar qualquer um àquele ponto no qual todos nos distraímos e nos perdemos para, então, estimular o estado do sonhar acordado. É um exercício de criatividade.
Por Pedro Doria.
Fonte: Estadão
Este é o tema do livro “Bored and Brilliant”, da jornalista americana Manoush Zomorodi, que foi correspondente da BBC em cantos do mundo como a Sérvia em guerra, a Palestina da Intifada, e a Macedônia negociando sua paz. De correspondente internacional, virou repórter de tecnologia e, na rádio pública americana, passou a assinar um podcast semanal. Chama-se Note to Self. Sua preocupação sempre esteve no convívio com nossas maquininhas. E é saltando de assunto em assunto que esbarrou em sua própria dificuldade de ter ideias novas.
Aí, começou a fazer perguntas.
Quando não fazemos nada, ouviu de um neurocientista após o outro, a cabeça começa a ir embora. Uma memória. Uma vontade. Lentamente um ponto liga ao outro, e entramos num estágio que muita gente chama de sonhar acordado. De fato, é quando consciente e inconsciente se comunicam, relações são feitas, de forma aleatória.
É assim que surge criatividade.
Os momentos do tédio não servem apenas para isto. Este deixar que o cérebro se leve nos permite reviver certos momentos antigos ou recentes e, assim, organizar a história de nossas vidas. Imersos nessas memórias todas, ganhamos compreensão de quem somos. O lembrar de uma discussão e refletir sobre como poderia ter sido diferente, ou então fazer planos futuros, traçar uma estratégia sobre como chegar lá.
O tédio é fundamental para nossas vidas. E tanto smartphones quanto os melhores apps são construídos para preencher os momentos de tédio. Aliás, brinca Manoush, só dois tipos de negociantes chamam seus clientes de usuários. Aqueles que vendem drogas e os outros. Que vendem tecnologia. Pois ponha algumas das mentes mais aguçadas do planeta para resolver o problema de eliminar o tédio e, bem, conseguiremos. Andamos com cada vez menos momentos de tédio.
E andamos exaustos por falta deles.
Não tem solução fácil. Mas a veterana jornalista sugere exercícios para uma semana, cada dia com sua tarefa distinta.
Dia 1. Deixe o celular no bolso. No carro, no metrô, nos momentos em que vai de um ponto ao outro, não toque no celular. Nem para música.
Dia 2. Não tire nenhuma fotografia. Quanto mais jovem, mais difícil.
Dia 3. Apague o app que você usa mais. Pode reinstalar no dia seguinte. Mas, por 24 horas, viva sem.
Dia 4. Por um período de algumas horas, não esteja disponível online. Não responda e-mails, WhatsApps, comentários. De preferência, sequer os veja.
Dia 5. Tente descobrir, no mundo, um detalhe curioso, intrigante, algo que você nunca tinha reparado.
Dias 6 e 7. O mais divertido. Ponha uma panela com água no fogo e assista ferver. Aí, abra sua carteira e faça uma maquete da casa de seus sonhos com o que estiver lá dentro. Notas, moedas, cartões, papeizinhos. Imagine esta casa e faça.
O último exercício foi desenhado pela artista contemporânea Nina Katchadourian. O objetivo é levar qualquer um àquele ponto no qual todos nos distraímos e nos perdemos para, então, estimular o estado do sonhar acordado. É um exercício de criatividade.
Por Pedro Doria.
Fonte: Estadão
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