quarta-feira, 11 de agosto de 2010

A LUTA ESTÁ NO CORAÇÃO (DARCKSON LIRA)


Temos visto nestes últimos tempos, a tentativa de líderes evangélicos (que falem os católicos por si) em mobilizar as Igrejas (Instituições) e o povo (artigos fabricados em massa) em uma luta contra a bandeira do aborto, homossexualismo e divórcio, sendo este último bem “light” haja vista a quantidade enorme de pastores e líderes que ocupam algum cargo nas ditas Instituições que já estão no segundo, terceiro ou quarto (!?) “casamento”!

Não vou me deter nos conteúdos desta discussão porque isso demandaria um espaço que seria entediante para a maioria que não gosta de ler. Mesmo porque em se tratando de autentico “cristianismo”, nenhum conteúdo se aproveita, se “não tiver Amor” ( I Coríntios 13) sendo portanto inútil discutir rigorismo, ortodoxia correta hermenêutica e boa exegese, se o genuíno Amor não for o critério para avaliação de qualquer coisa que pretenda dizer-se relacionada com Jesus.


Preocupa-me e por vezes causa justa indignação, os motivos inspiradores dessas “cruzadas” de radicais contra radicais, intolerantes contra intolerantes, interesseiros contra interesseiros, empresários contra empresários, porque somente sendo “muitoooo” tolo, para não compreender que por trás desses posicionamentos ideológicos estão bem ocultos, interesses empresariais e políticos!

Posicionar-se a favor do aborto ou homossexualismo rende votos e possibilita espaço na mídia e influência na manipulação de “grupos” e segmentos. Posicionar-se contra tais práticas, semelhantemente rende votos ou influência (a quem se apresentar) como defensor da “bandeira da sã doutrina”, defensor dos bons costumes, trazendo obviamente aos tais paladinos da integridade social, rendimentos de toda espécie!

Não vejo a mesma empolgação quando se trata de mobilizar o povo evangélico em cruzadas contra a criminalidade, corrupção política (talvez porque os espaços cristãos estão impregnados da mesma prática), contra a fome, em prol das crianças, idosos e milhões de pessoas que vagueiam pelas ruas sem trabalho, sem teto, sem educação, sem esperança, sem vida... Talvez porque envolver-se com tais causas demande renúncia, mudança no estilo de vida e re-direcionamento nos investimentos dessas mega- estruturas religiosas. É bem mais fácil mexer com outro tipo de “moral”, e fazer vista grossa para com a imoralidade da miséria!
Os que gastam alguns segundos utilizando a “massa cinzenta” que carregam na cabeça, facilmente percebem a forma como “bandeiras” contra isso e aquilo são levantadas e quais os motivos que as inspiram. Os objetivos finais? Claríssimos! Aumentar os feudos de líderes e instituições religiosas mexendo com aquilo que a sociedade consegue ser mais hipócrita: a suposta moralidade!

Sou a favor, e os que me acompanham sabem que defendo a idéia de que como “luz do mundo e sal da terra” (se conseguíssemos ser tal coisa), que nos envolvamos em causas sociais, políticas, ecológicas, filantrópicas, desportistas, etc. Mas sinceramente, quando leio a doutrina de Jesus e vejo a maneira como Ele se comportou – e posteriormente seus seguidores – não consigo imaginar que ele estaria concitando o povo a fazer “lobbies” políticos ou empresariais para tentar por meio de leis e decretos, mudar a conduta dos seres humanos e realizar “by force” uma reforma social! Estão errados os que imaginam que vamos modificar a sociedade por meio de decretos legislativos. O máximo que alcançaremos seria uma Espanha da fanática rainha Isabel, uma Genebra do fundamentalista Calvino ou Inquisição do psicopata Torquemada! Aliás, pela forma odiosa e visível irritabilidade que vemos em muitos ditos evangélicos quando se colocam a combater os vícios sociais (não aqueles vícios $$$), não nos resta dúvidas de que se tivessem na mão alguma coisa além do “poder midiático” para com inflamados discursos tentar mobilizar o povo e políticos contra tudo que discordam, lançariam mão sem hesitar para perseguir e reprimir até mesmo liberdades individuais!

Qual o caminho que Jesus tomou para impactar e causar mudanças profundas na sociedade? O caminho do coração!
“Porque do coração, procedem maus desígnios, homicídios, furtos, adultério, prostituição, falsos testemunhos, blasfêmias”. (Evangelho segundo Mateus capítulo 15, verso 19).
Isso mesmo!

Será que você tem noção do que Roma fazia com os povos dominados? Quantas cabeças eram cortadas, quantas cruzes levantadas todos os dias simplesmente porque alguém discordava daquela estrutura de dominação e exploração política e social? Será que você tem idéia dos bacanais, prostituição e homossexualidade que rolava naquela sociedade? Já parou prá pensar que a escravidão era costume absolutamente comum, e tal extrema impiedade era legalizada naqueles dias? Com o poder que Jesus tinha, que rumo Ele poderia ter tomado "se" quisesse?

O mesmo que os ditos seguidores dele estão tomando atualmente. Mas acreditem amigos: a força do pecado é a Lei! Não adianta utilizar dispositivos legais, regras e regras para deter a marcha dessa sociedade decadente. Exatamente por isso as Igrejas – sejam católicas ou evangélicas – estão tendo uma derrota atrás da outra em vários países do mundo. Estão tomando o caminho errado! Se ao invés de tanto “blá-blá-blá” nos penitenciássemos e buscássemos o poder do Espírito Santo, o poder do Alto, e manifestássemos o Amor de Jesus a este mundo, haveríamos de ter resultados como Ele teve! Porisso as pessoas que se dispõem a pensar, confrontam os discursos feitos em nome de Deus (e que não têm nada a ver com Ele que espera que amemos os perdidos deste mundo), a vida nababesca e impérios religiosos que estão sendo construídos, e logo percebem a real motivação! Isso ao invés de trazer reflexão, quebrantamento, a possibilidade de arrependimento, gera na sociedade repulsa, e desejo de confrontar e combater o que eles sabem na verdade que não passa dum grande jogo (dissimulado é claro) dos detentores de uma ideologia tentando manipular a consciência dos “rebanhos”.

A ação violenta vai ser rebatida por meios violentos, a repulsa receberá em troca ódio, e ao invés de estabelecermos pontes para um diálogo construtivo só aprofundamos abismos. Daí a “Marcha do Orgulho Evangélico” e a “Marcha do Orgulho Gay”. Daí os “lobbies” a favor de políticos ávidos pelos votos dos evangélicos, continuarem se digladiando com os “lobbies” dos políticos ávidos pelos votos dos “GLS” nem tanto porque têm paixão por uma ou por outra causa, mas pelos benefícios que podem extrair delas = votos, poder, dinheiro e influência! Estão a defender o PODER! E esse é o motivo pelo qual estão TODOS (denominações e líderes, salvo raríssimas excessões) alinhados e aliançados com um ou outro candidato que está sendo indulgente com tais "opções de conduta" - e todos são - porque nenhum deles vai confrontar tais grupos. Por conseguinte, essa “guerra” nada tem a ver com o que aparenta ser.

Deixem-me concluir – já que escrevi o suficiente para me enforcarem nos púlpitos – lembrando quais as credenciais que Jesus enviou como a resposta à pergunta de João Batista por intermédio de seus discípulos. João perguntou: “És tu o Cristo que havia de vir, ou devemos esperar outro”?
A resposta veio por intermédio de Atos: diz-se que Jesus curou alguns doentes, purificou leprosos, fez paralíticos andar, abriu olhos a cegos, e ao concluir enviou a João o seguinte recado:
- Digam para João o que viram: cegos vêem, leprosos são purificados, mortos são ressuscitados e AOS POBRES É ANUNCIADO O EVANGELHO”. ( Evangelho de Lucas capítulo 11 versos 2 a 6).
Antonio Vieira acerca deste texto comenta de forma brilhante:

“Quando o Batista mandou seus discípulos que fossem perguntar a Cristo se era ele o Messias, a resposta do Senhor foi esta: Euníes renuntiate Joanni quae audistis, ei vidistis (Mt. 11,4): Ide, dizei a João o que vistes e ouvistes.

– E o que é o que tinham visto e ouvido?


O que tinham visto era que os cegos viam, os mancos andavam, os leprosas saravam, os mortos ressuscitavam: Caeci vident, claudi ambulant, leprosi mundantur, moriui resurgunt (Mt. 11,5). E não bastavam todos estes milagres vistos, para prova de ser Cristo o Messias?


Sim, bastavam; mas quis o Senhor acrescentar ao que tinham visto e ao que tinham ouvido, a maior prova, e a mais certa.


O que tinham ouvido os discípulos do Batista era que o Evangelho de Cristo se pregava aos pobres:
Pau peres evangelizaniur (41), e esta foi a última prova com que o Redentor do mundo qualificou a verdade de ser ele o Messias. Porque pregar o Evangelho aos pobres, aos miseráveis, aos que não têm nada no mundo, é ação tão própria do espírito de Cristo, que depois do testemunho de seus milagres a pôs o Filho de Deus por selo de todos eles.


O fazer milagres, pode-se atribuir à malícia de qualquer outro espírito: Mas evangelizar aos pobres, dando-lhes pão e peixe, nenhuma malícia pode negar que é esse o espírito de Cristo.”

Talvez já esteja passando do tempo da grande nação Evangélica rever seus valores e quem sabe “fazer outra reforma na reforma”!

Darckson Lira.

Fonte: http://www.darcksonlira.com.br/

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